Teste D.A.


Viu alguma notícia na mídia sobre pessoa trans (travesti, transsexual, transgênero)? Programa de TV, entrevista? Esse conteúdo passa no Teste D.A. (Daniela Andrade)? Responda às perguntas abaixo e veja o resultado (é igual teste da Capricho).

Teste D.A.

1) O conteúdo descreve a pessoa trans como criminosa?

Exemplos: 
"Homem é roubado por travesti na esquina da rua Pacheco Leão..."
"Gangue de travestis atua na praça Marechal Deodoro..."

2) O conteúdo descreve a pessoa trans como doente mental?

Exemplos:
"Pais, quando ele começou a usar vestidos, vocês o levaram no psiquiatra?"
"Você sempre se sentiu assim? Você já tentou fazer terapia?"

3) O conteúdo trata da pessoa trans como exótica?

Exemplos:
"A seguir: o homem que um dia foi mulher."
"Ele ou ela? conheça a vida de Vanessa."

4) O conteúdo ridiculariza a pessoa trans?

Exemplos:
"Você vai ter que adivinhar qual dessas é mulher de verdade."
"Você já se enganou? Já pegou travesti na balada?"

5) O conteúdo hiperssexualiza as pessoas trans?  

Exemplos:
"Homens com fetiche por travestis: mito ou verdade?"
"Você é operada? Você faz programa? Você botou silicone?"

Resultado

Se você respondeu "sim" a qualquer uma das perguntas, que pena: este é mais um "desserviço" da mídia que só serve para alimentar a transfobia. Pode colocar no lixo.
Se você respondeu "não" a todas perguntas então parabéns! Você encontrou uma raridade. Leia ou assista com atenção pois este conteúdo pode ser interessante e informativo.

Baseado no depoimento de Daniela Andrade na entrevista TRANSFOBIA - Pergunte Às Bee 58 do Canal das Bee.

Um conto de fadas: Os Fugitivos da Ditadura Gay


Era uma vez um casal de jovens formado por um homem e uma mulher. Ela se chamava Ana e ele, João. Eles viviam muito felizes no seu casamento e tinham muitos planos para o futuro. Porém certas notícias nos jornais e na TV começaram a deixar os dois preocupados: gays reclamando de serem maltratados.

O tempo foi passando e as notícias aumentando. Agora não eram só gays reclamando. Havia também lésbicas. Além disso eles exigiam direitos iguais aos dos heterossexuais. "De onde surgiu essa gente pra reclamar?", indagou Ana. "Não sei. No passado ninguém se queixava" respondeu João.

Ana, ao caminho do trabalho, viu duas adolescentes beijando-se e balançou a cabeça negativamente. À noite, durante o jantar, comentou o ocorrido com João enquanto saboreavam uma deliciosa caçarola de corações de galinha temperados com alecrim. Hum, que gostoso! "Eu fiquei com nojo, com vontade de vomitar" disse Ana. João lembrou: "Esses dias eu vi dois homens de barba e de mãos dadas na rua também. Isso é uma falta de vergonha!"

Com os anos passando, não eram mais só notícias: os filmes e novelas mostravam personagens homossexuais. E havia cenas de carinho entre eles! "Isso é propaganda gay" esbravejou Ana ao ver um beijo entre dois homens enquanto assistia novela. João viu que projetos de lei foram propostos visando o acolhimento da diversidade sexual. O casal, com medo, votou nas eleições em candidatos que declaram-se contra e dispostos a combater esse tipo de comportamento. Isto lhes deu um certo alívio.

Ana e João viram em redes sociais avisos de que uma ditadura gay estava sendo armada e poderia ser instaurada no país. E que as pessoas deveriam se proteger e combater isso. Eles ficaram temerosos sobre a possibilidade da tal ditadura. Quando João foi ao supermercado, notou que a operadora de caixa era uma transsexual e pensou em silêncio: "Esse tipo de gente vivia na noite, nas calçadas, nos becos, e agora está aqui me atendendo. É um absurdo! É o fim do mundo!".

Ao chegar em casa, ele e Ana conversaram muito e tomaram uma decisão: iriam fugir do país. Sim. Para um lugar isolado. Isolado dos gays, das lésbicas, dos transsexuais, das pessoas. Planejaram tudo. Fizeram cursos em todas áreas necessárias para que os dois fossem auto-suficientes. Compraram um sítio em um país distante, num local ermo e isolado. Nem eletricidade havia. Equiparam com o que era preciso para uma vida confortável. Mas sem telefone, TV ou Internet! Afinal não queriam correr o risco de entrar em contato com aquele tipo de gente. Alguns animais, uma plantação... estava mesmo ficando um primor este sítio!

Quando Ana e João julgaram que o sítio estava ideal, largaram os seus empregos e mudaram-se para lá definitivamente. Prontos para viver uma vida mais simples, isolada, junto à natureza, solitária mas com muito amor entre os dois. São mesmo muito corajosos e decididos esses dois! E assim foi. Viveram muito felizes neste recanto isolado de felicidade por anos, e não arrependeram-se nem por um segundo.

Até que um dia, a felicidade aumentou ainda mais: Ana estava grávida! Oh, que amor! Foi uma gravidez tranquila. O parto foi "como antigamente", só que feito pelo papai! Não poderia ser mais romântico, não é? Era um menino! O chamaram de Bruno. O menino cresceu livre, junto à natureza e aos animais, como diz aquela canção dos Beatles: "Born a poor young country boy - Mother Nature's son." Ai... Me deu uma vontade de cantar agora... Dududuuu du dudu turududuuuu!

Dezoito anos mais tarde, Bruno estava um rapagão e ajudava seus pais na lida do campo, afinal eles tinham produzir tudo o que precisavam. Havia muito trabalho a fazer! E ele o fazia com muito zelo e dedicação: cuidava da plantação, dos animais, tosqueava as ovelhas, ajudava sua mãe na fiação e produção de tecido de lã para que pudessem fazer suas roupas.

Um dia, no hora do jantar, Bruno aparece entusiasmadíssimo e exclama aos seus pais "Olha o que eu fiz para mim! Não está um arraso?" Bruno estava vestindo uma mini blusa de alcinha, deixando a sua barriga à mostra.
Bruno era gay.
Fim.

No tempo em que andávamos pelados


Naquele tempo tudo era mais simples. Ninguém usava roupa. Dava pra ver tudo.
Você gostou de mim. Estou vendo, está duro. Também gostei de você, e você está vendo, estou duro.
Não precisava explicar. Não precisava justificar. Não precisava nomear. Não precisava falar.
A natureza fez um órgão bem complexo que dispensou tudo isso: o pênis. Poderia ser apenas um osso revestido de músculo e acionado voluntariamente como é em alguns animais. Seria mais barato. Mas não. A natureza fez mais caro. Um balão de sangue que infla e desinfla involuntariamente. Para quê? Para mostrar saúde. Para mostrar desejo.
Rígido e ao mesmo tempo macio. Cabeça cintilante. A de alguns só se mostra no momento certo. E dá pra ver de longe. A mensagem é essa mesmo: "Olha, me veja, eu quero."
As coisas seriam mais simples se hoje ainda andássemos pelados:
"Sei que não gostou de mim... me engana que eu gosto. Estou vendo que gostou."
"Sua religião não permite mas esqueceu de contar isso pra 'ele'."
"Olha o quanto te quero."
"Não importa se você é casado e com filhos. Estou vendo que me quer. E eu também te quero."
Daquela franqueza de andarmos pelados hoje só nos sobrou o olhar, que ainda, de vez em quando, inconsciente e teimoso, revela quem estamos a desejar.